CACTÁCEAS DO RIO GRANDE DO SUL - GÊNEROS
"Eu quero o amor da flor
de cactos ela não quis...”
A cactofilia
A cactofilia (paixão pelos cactos) é uma virose de carácter benigno, pouco conhecida em nosso meio,
porém muito difundida nos países desenvolvidos . Até agora não foi relatado casos fatais na literatura mundial, mas sua
incidência e maior a cada dia, segundo informações recentes.
O contágio acontece ante a presença de um ou várias plantas da
família cactácea e quando o agente causal (leia-se cactos) se encontra em flor, é muito difícil não
contrair a enfermidade. Paradoxalmente as espécies pequenas são mais virulentas que as espécie de grande
tamanho, com exceções.
Parecem indicar, pesquisando o passado, que desde o
descobrimento da América, os europeus adquiriram esta virose, que teve característica de epidemia na Inglaterra
do século XVIII e posteriormente na França e Alemanha do século XIX. A partir do século XX, em
decorrência do desenvolvimento das comunicações
a endemia é a nível mundial.
Curiosamente, no continente americano, de onde são oriundos os agentes causais desta virose (os cactos), os latino-americanos
são aparentemente imunes, por isso os
poucos casos reportados são atribuídas a migrações do exterior. Em
contrapartida nos EUA e Canadá a incidência é similar ao do Velho Mundo, por razões genéticas.
São conhecidas várias formas clínicas:
Em casos leves, os cactofílicos se contentam em cultivar algumas
plantas dessa família e ainda aprender
seus complicados nomes em latim.
Nos casos agudos, os cactofílicos sentem a imperiosa necessidade de realizar peregrinações a conhecidos santuários
de cactos (...).
Manifestações mais severas convertem os enfermos em viciados,
que compulsivamente tratam de obter
todas as formas de cactos que existem, em torno de 120 gêneros e umas 2.000
espécies.
Formas mais avançadas de cactofilia, os enfermos se agrupam em clubes
ou associações (...) para intercambiar experiências e informações sobre
descobertas de novos objetos de culto (cactos), os quais publicam em boletins
ou revistas.
Como acontece com a maioria das viroses, não existe um
tratamento efetivo para a cura e as
tentativas para conseguir uma vacina anti-cactofílica fracassaram
categoricamente, como no caso da gripe comum devido a grande diversidade de
agentes patógenos, a saber, os cactos.
Carlos
Ostolaza Nano
Membro da Sociedad Peruana de Cactus y Suculentas
Tradução: Hélio Ramirez
1. Os Gêneros
1.1 - Gênero Brasiliopuntia (K.Schum.) A.Berger
Compreende uma só espécie (Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger (1926)). O gênero foi desmembrado de Opuntia, em 1926 pelo botânico alemão Alwin Berger (Möschlitz, Schleiz, Thüringen, 28 de agosto
de 1871 — Stuttgart, 20 de abril de 1931). O termo opuntia deriva, provavelmente de
Opuntium, uma antiga localidade grega, onde segundo Tournefort, cresciam plantas semelhantes a cactos (possivelmente cardos). O gênero
Brasiliopuntia se difere do opuntia por
apresentar tronco e copa definidos (semelhantes a árvores), ramos caducos e pela estrutura do pólen.
Descrição:
Cactos de porte arbustivo podendo alcançar 4 m de altura. Tronco habitualmente único que
se lignifica com a idade, carecendo
de segmentos. As aréolas distanciadas entre si; 1 a 3 espinhos de 3 a
6 cm.
Ocorrência: Brasil,
Argentina, Paraguai e Bolívia.
Sementes: Cinco grandes sementes
por fruto, cada um com até 1 cm de diâmetro.
Flores: Flores diurnas,
amarelas de até 6 cm de diâmetro.
Frutos: de diversas cores e formas.
B. brasiliensis Local: Cactarium |
O nome deriva da palavra latina cereus
= círio ou vela, em alusão a forma
alongada e perfeitamente ereta, a semelhança de uma vela, das plantas desse
gênero.
Descrição:
Plantas arbóreas ou arbustivas muito ramificadas. Tronco geralmente eretos, as vezes prostados com 4 a 14 costelas,
grandes e distanciadas de forma precisa (com simetria). Corpo de cor verde
viçoso ao verde-escuro. Espinhos compactos e longos, sendo os centrais mais
longos e mais escuros. Com variedades de cor clara, marrom-escuro ou quase
preto.
Ocorrência: Do oeste da América do Norte até a América do Sul (leste da Argentina e Brasil)
Sementes: Grandes e pretas
Flores: Flores de 20 a 30 cm, bem perfumadas, com cores que variam
do branco ao rosa e vermelho profundo. Flor tubular e glaba. Uma característica
típica do gênero é que após a floração, com a queda do perianto, a fruta
permanece. Noturnas.
Frutos: Frutos globosos a ovóides, carnosos,
usualmente nus, vermelhos, as vezes
amarelos, com polpa branca, raramente
rosada ou vermelha, deiscentes.
Cereus sp. na forma epífita. Local: Nascentes do Telho - Jaguarão/RS
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1.3 - Gênero
Echinopsis Zuccarini 1837
Gênero sul americano que engloba cerca de 125 espécies (HOFFMANN J., 2004).
Equinopsis vem do grego "echinos"
= porco espinho ou ouriço e "opsis" = aspecto, semelhante a. O gênero é nativo da América do Sul, particularmente
na Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Brasil,
Equador, Paraguai e Uruguai. Crescem em solo arenosos ou com cascalho e em ladeiras de cerros e nas fendas
entre as rochas.
Descrição:
Plantas geralmente globosas, a vezes cilíndricas de até a 1 m
de altura. Solitárias, podendo surgir filhotes desde a base. Costelas continuas ou com alguma interrupção.
Ocorrência: Do
norte da Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil.
Sementes: negras
com tegumento mole.
Flores: diurnas ou noturnas, de 10 a 20 cm; cores variando do vermelho ao
branco; infundibuliforme (corola com pétalas fundidas em tubo que alarga-se
gradualmente da base para o ápice, parecendo um funil) ou quase tubiformes, laterais ou superiores.
Frutos: elipsoide, carnosos,
com deiscência longitudinal e pilosos.
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Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Echinopsis |
1.4- Gênero Frailea Britton & Rose 1922
O nome deste gênero é uma homenagem ao espanhol Manuel Fraile, nascido em Salamanca e
responsável pelas coleções de cactos do Departamento de Agricultura dos EUA , Washington D. C. em fins do século XIX.
Descrição:
Pequenos cactos esféricos. Com grande brotação. Com costelas
não muito salientes.
Ocorrência: crescem entre rochas, perto de rios. Do sul do
Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina.
Sementes: Com de 1-2 mm;
variando do castanho até o preto,
brilhantes ou opacas, lisas,
reticuladas; com ornamentação de espinhos ou poros na forma de um elmo
(semelhante a um chapéu), opacas, lisas,
reticuladas; hilo relativamente grande. Cabe
salientar que a forma e ornamentação das sementes desse gênero, é usada na sistemática para diferenciar espécie.
Flores: Flores em forma de funil, variando do amarelo ao branco
esverdeado, até o marrom avermelhado. São cobertas com uma delicada penugem
marrom.
Frutos: Frutos
pequenos, globulares ou ovoides,
com brácteas pequenas, triangulares,
com cerdas nas axilas.
Frailea sp. Local: Cactarium |
1.5 - Gênero
Gymnocalycium Pfeiff. ex Mittler 1845
Do grego gymnos= nu e calyx= cálice
em referência ao pericarpo nu.
Descrição:
Plantas robustas de pequeno a
médio porte; esféricas com costelas tuberosas.
Ocorrência: Argentina, Uruguai, sul de Brasil, Paraguai e Bolívia.
Sementes: Sementes pretas ou castanhas.
Flores: Diurnas, campanuladas ou infundibuliforme; nascem nas
aréolas a superiores ou centrais.
Frutos: Frutos glabros, globosos, escamados.
Gymnocalycium sp. Local: Cactarium |
O nome do gênero é uma homenagem ao botânico irlandês William Harris (Enniskillen, 15 de novembro
1860; Kansas City, 11 de outubro 1920)
que supervisionou vários jardins botânicos na Europa e América.
Descrição:
Plantas arbustivas; raramente
arborescente. Número de costelas: de 3 a 8, geralmente largas e obtusas.
Ocorrência: Caribe e América Latina (Bolívia, Brasil, Argentina e
Paraguai).
Sementes: Negras, bem rugosas e grandes.
Flores: Flores grandes, brancas, noturnas, infundibuliforme e
efêmeras.
Frutos:
Amarelos ou alaranjados. Indeiscentes (frutos que não se abrem espontaneamente)
ou deiscente por uma rachadura longitudinal.
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Harrisia sp. Fonte: http://www.cactuspro.com/encyclo/Harrisia |
1.7 - Gênero Hatiora Britton & Rose 1923
Esse gênero, um anagrama, é uma homenagem
ao botânico Thomas Hariot.
Descrição: De hábito epífito (preferencialmente) e rupícola. Muito
ramificadas e sem espinho. Porte ereto ou pendente.
Ocorrência: Matas úmidas da América do Sul.
Sementes: De 1,5
mm compr., castanhas.
Flores: Actinomorfas, diurnas, pequenas (mais ou menos 1 cm) e
amarelas, laranja ou rosa.
Frutos: Frutos pequenos (bagas), levemente pentangulados, ápice truncado,
1-1,1 cm compr. e 1,1 cm larg., verde- amarelados;
cicatriz do perianto 1 cm larg., cinza. São
apreciados por pássaros.
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FOTO: Daiv
Freeman |
1.8- Gênero Lepismium Pfeiff.
1835
Gênero descrito pelo alemão Ludwig Karl Georg
Pfeiffer (Kassel, 4 de julho de 1805 —
Kassel, 2 de outubro de 1877) que além de botânico foi médico e malacologista. Lepismium,
deriva do grego: "λεπίς"
(lepis) = recipiente, escamas, apagado; referindo-se a forma em que, em algumas espécies as flores se rompem através
da epiderme.
Descrição: Cactos epífitos
ou rupícolas.
Ocorrência: Brasil, Argentina e Bolívia.
Sementes: Sementes marrom ou
preta com mais ou menos 1 mm.
Flores: Flores pequenas que surgem ao longo das folhas.
Frutos:
Bagas de cor brilhante ou transparente.
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FOTO: Daiv Freeman |
1.9- Gênero Opuntia (Linné)
Miller 1754
O nome deste gênero deriva de
opus= capital da antiga província grega
de Lócrida, onde cresciam algumas plantas espinhosas, e foram confundidas
por Tournefort (1700), como sendo cactáceas.
Descrição: Facilmente reconhecidos pelos seus segmentos de caule
planas em forma de pá chamados cladódios que crescem um acima do outro. Os cladódios são cobertos com aréolas que sempre
têm pequenas espinhas, facilmente destacadas chamados gloquídios.
Ocorrência: É o gênero com
maior número de espécies (200), e o de
maior amplitude de distribuição: desde o
sul do Canadá até a Argentina, com exceção Hilaea e das costas de Perú e Chile. Atualmente várias espécies se encontram
aclimatadas em vários países do Velho Mundo, especialmente nas costas do Mediterrâneo, África do Sul e Austrália, entre outros; sendo em muitos casos
ditas como plantas daninhas por sua agressividade e em consequência, desvalorizando grandes extensões terras.
Sementes: Sementes com tegumento duro, lenhoso, rodeadas com arilo; a vezes com pelos, com cores que variam do
esbranquiçado ao castanho claro.
Flores: flores grandes, tépalas numerosas, cores atrativas,
fragrância leve e suave, numerosas
anteras com pólen muito nutritivo, estilete saindo do centro dos
estames, estigmas pegajosos e verdes, lobos de estigmas que facilitam o pouso
de insetos e ocasionalmente nectários.
Frutos: Frutos carnosos com várias sementes.
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Opuntia monacantha (Willd.) Haw . FONTE: http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=8326 |
1.10 - Gênero Parodia
Spegazzini 1923
Gênero em homenagem ao italiano Domingo
Parodi (nascido em Gênova em 1823 e morto em 1889 em Paris). Foi um dos
primeiros investigadores da flora paraguaia.
Escreveu vários artigos para a então nascente Sociedade Científica
Argentina.
Descrição: Plantas pequenas globosas, com costelas
definidas ou em mamilos, retos ou espiralados. Aréolas geralmente com
muitos espinhos retos, arqueados ou curvos.
Ocorrência: Sul da Bolívia, Paraguai, sul e centro do Brasil e norte de Argentina.
Sementes: Sementes bem pequenas em um grupo de espécies, e de ± 1 mm nas demais; pretas negras,
lustrosas, lisas, em forma de “casquete”,
hilo relativamente grande.
Flores: Flores infundibuliforme que nascem das aréolas centrais, com 2-6 cm. Pericarpelo glabro ou similar ao tubo:
com escamas que tem pelos lanosos e cerdas nas axilas. Perianto que pode mudar
de cor, dependendo da idade da flor.
Estames com filamentos amarelos ou as
vezes rosados. O estigma em todas as espécies é pronunciada e muitas vezes é
uma cor altamente contrastante com lóbulos longos que podem ser úteis para a
identificação .
Frutos: Frutos pequenos, globosos, lanuginoso, de pele fina, secos deiscentes
pela base, com perianto seco persistente.
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Parodia allosiphon (Marchesi) N.P. Taylor FONTE: http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=7911 |
1.11 - Gênero
Pereskia Plumier ex Miller
Gênero homenageia o astrônomo e botânico francês conde Nicolas Claude Fabri de Peiresc (Belgentier, 1 de Dezembro de 1580 -
Aix-en-Provence, 24 de Junho de 1637) que cultivou e escreveu vários artigos
sobre cactos.
Descrição: Pereskia é único
gênero de cactos que tem folha não suculentas; não cactiformes. De porte
arbustivo, podendo ter caule ereto ou trepador; caule sempre cilíndrico, sem costelas ou mamilos. Aréolas sem gloquídios, com uma ou mais
folhas planas e grandes, com nervuras com espinhos retos ou curvos.
Ocorrência: Planta encontrada do México até a Argentina.
Sementes: Sementes negras ou castanhas escura com tegumento suave.
Embrião curvo, com codilédones alongados.
Frutos: Fruto carnoso, globoso ou periforme, com brácteas e espinhos e cerdas (ou pelos), quando imaduros.
Flores: Inflorescências terminais, em panícula. Flores com 20–50 mm
de diâmetro; pedicelo tricomatoso, 4–19 mm; perigônio branco a levemente
amarelado.
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Pereskia aculeata Mill. FONTE:http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=342 |
1.12 - Gênero
Rhipsalis J. Gaertner, Fruct.
Sem. Pl 1: 137, 1788.
O termo Rhipsalis vem de Rhips= ramos de salso em alusão aos ramos delgados e flexíveis
dos mesmos.
Descrição: Plantas epífitas,
raramente litófitas, as vezes arbustos pendentes.
Este é o único gênero que migrou para fora da América sem ajuda
antrópica. Habita, exitosamente, tanto os bosques tropicais e chuvosos da América como os da África, em forma epífita.
Ocorrência: América tropical, especialmente Brasil, o Caribe e uma espécie na África tropical, Madagascar, Seychelles, Maurício,
Reunião e Sri Lanka.
Sementes: Fruto com 20
sementes, com tamanho de 1,2 × 0,6 mm cada.
Flores: Flores actinomorfas, pequenas, uma ou mais por aréola. Pericarpelo glabro, com poucas escamas, fundidas ou não na aréola. Perianto rotáceo,
com as peças unidas pela base num curto tubo; as peças exteriores sepalóides,
carnosas, as interiores petalóides,
delicadas. Ovário globoso. Estames com
inserções no tubo ou cerca da base das tépalas; anteras orbiculares; filamentos delgados.
Estilo cilíndrico, adelgaçado na base,
com somente 4-5 lóbulos estigmáticos
eretos o revolutos.
Frutos: carnosos
e mucilaginosos.
1.13 – Gênero
Wigginsia Porter
Em homenagem a Drª L. Wiggins, Diretora científica do Belvedere Scientific Fund. of San Francisco (EUA).
Descrição: Plantas
geralmente solitárias, globosas com um
cefálio central formado por pelos
lanosos que nascem da aréolas floríferas. Costelas agudas, geralmente profundas. Aréolas
espaçadas com pelos curtos, rígidos e
densos tomento conspícuo, esbranquiçado;
espinhos aciculares, curtos e robustos, formando uma cobertura pouco densa.
Ocorrência: No sul do
Brasil, Uruguai e Argentina; uma espécie ocorre na Colômbia.
Sementes: XX
Flores: Flores infundibuliformes ou
quase rotáceos , nascendo de aréolas centrais modificadas: sem espinhos e com tomento que forma um cefálio.
Frutos: Rosados
ou vermelhos que emergem do cefálio ao ficarem maduros.
OBS.: ALGUNS AUTORES INCLUEM ESSE GÊNERO EM PARODIA.
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FONTE: http://www.cactusinhabitat.org/index.php?p=specie&id=157&l=es |
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